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sábado, 1 de outubro de 2011

CUNHA E SILVA

Francisco da Cunha e Silva nasce na terra piauiense de Amarante. Era 3-8-1904. Cursou o Colégio Bento XV de Teresina. Fez humanidades no Colégio Salesiano Santa Rosa, de Niterói, no Estado do Rio. Escolheu a carreira eclesiástica, matriculou-se no Colégio Salesiano São Manuel de Lavrinhas, São Paulo, também seminário, em que fez estudos superiores de filosofia e latim. Sem vocação para o sacerdócio, seguiu outra destinação. Casou-se na antiga capital da República. Em 1927, fixava-se em sua cidade natal. Iniciou-se no magistério de português, história e geografia. Em Amarante, fundou o educandário Ateneu Rui Barbosa. A partir de 1947, estabeleceu-se em Teresina, quando subiu ao Governo do Piauí o médico José da Rocha Furtado, eleito pela antiga União Democrática Nacional. Antes, em 1935, acusado, processado, teve condenação como comunista pelo extinto Tribunal de Segurança Nacional. Cumpriu mais de um ano de prisão na antiga e demolida penitenciaria da capital piauiense.

O novo governo lhe confiou uma cadeira de geografia no Colégio Estadual, antigo Liceu. Passou também a colaborar na Imprensa, sem remuneração de qualquer natureza. Militou em quase todos os jornais: "O Piauí", "Resistência", "A Gazeta", "O Tempo", "O DIA", "Jornal do Piauí", "A Luta", "O Pirralho", além de revistas noticiosas e literárias.

Não permaneceu muito tempo nas hortes da UDN. Era jornalista de linguagem forte, por vezes agressiva. Rompeu com o governador Rocha Furtado. A politica da época não aceitava rebeldias. A punição se fazia necessária e rigorosa. Os que se rebelavam perdiam o emprego público, tivessem ou não responsabilidade de família. Perdeu a cadeira de que tirava o pão de cada dia.

Pobre e carregado de filhos pequenos, sem casa própria, Cunha e Silva padeceu severa adversidade. Ajudavam-no alguns amigos e colegas. Conheceu de perto duras e pesadas aflições. Mas não dava tréguas ao governo. Escrevia artigos contundentes e violentos contra o governante e seus auxiliares.

O Partido Social Democrático, de oposição, deu-lhe modestíssimo lugar no antigo Fomento Agrícola. Trabalhava na Granja Pirajá, bem distante de sua residência, percurso que ele fazia a pé. Brevemente se aborreceu do emprego e largou-o para suportar novas e pesadas vicissitudes. Ganhava pouquíssimo em estabelecimentos particulares de ensino, dando aulas desde que o dia principiava até de noite.

Tinha animo forte. Nunca abaixava o topete. Com a subida de Pedro Freitas ao governo, candidato de oposição a Rocha Furtado, mereceu duas cadeiras no magistério do Colégio Estadual e da Escola Normal. Passou a ganhar sofrivelmente. No governo Petrônio Portella, foi escolhido para cargo em comissão, de diretor da Casa Anísio Brito, que reunia o Arquivo, a Biblioteca e o Museu do Estado. Exonerou-se, dentro de pouco tempo, das funções, para prestar solidariedade a amigo desavindo com o governador.

Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico Piauiense. Em 1975, ingressou na Academia Piauiense de Letras. Publicou a tese "O Papel de Floriano Peixoto na Obra da Proclamação e da Consolidação da República", para a realização de um concurso de professor, em que foi aprovado. Mais dois livros seus foram publicados pela sua instituição acadêmica: "A República dos Mendigos", romance de caráter político, e "Copa e Cozinha", de estudos sociais e históricos.

Os anos começaram a pesar-lhe no organismo sofrido de muitas lutas. Não arrefecia, porém. Escrevia e lecionava. No governo Chagas Rodrigues teve a nomeação como diretor do Colégio Estadual. Depressa deixou as funções em protesto contra juiz de direito da capital que concedeu mandado de segurança a um professor por ele punido.

Os princípios da velhice e depois a velhice fizeram que serenasse mais as atitudes. Disciplinou-se. Muito sofreu, mas muito se realizou combatendo os poderosos sem temer violências ou perseguições.

A 21 de janeiro de 1990, pelas três horas da madrugada, o companheiro rebelde fechou os olhos a este mundo que lhe foi muito ingrato, cujas injustiças ele combateu com energia e coragem. Despediu-se o velho mestre, deixando a lembrança de um forte temperamento e de invulgar capacidade de escrever sobre assunto vário. Como quis, jaz no cemitério da sua querida Amarante.


A. Tito Filho, 01/03/1990, Jornal O Dia

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