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sábado, 7 de janeiro de 2012

BATALHA DECISIVA

D. João VI, ao retornar a Portugal em 1821, reconheceu que a Independência do Brasil era impossível de conter-se. Desejava preservar o norte do país, reunindo, como colônia portuguesa, Pará, Maranhão e Piauí. Este, de grande riqueza em gado bovino, poderia cortar o suprimento de carne a outras regiões brasileiras, inclusive ao sul.

Para o comando das armas em Oeiras, então capital do Piauí, o rei nomeou o militar português João José da Cunha Fidié, empossado a 9.8.1822.

A 7.9.1822, às margens do Ipiranga, o Príncipe Regente D. Pedro proclama a Independência do Brasil.

Em Parnaíba, um grupo de patriotas, à frente dos quais João Cândido de Deus e Silva e Simplício Dias da Silva, declara sua adesão à causa da Independência e aclama Imperador o Príncipe D. Pedro, a 19.10.1822.

Com o objetivo de sufocar o levante, Fidié marcha para Parnaíba, cerca de 700 quilômetros distante, com tropas de linha, lá chegando em 18.12.1822. Encontrou a vila guardada pelo brigue Infante Dom Miguel, vindo do Maranhão, com tropas e armamento em seu auxílio. Os chefes da revolta refugiaram-se em Granja, no Ceará.

Em Oeiras, a 21.1.1823, Manuel de Sousa Martins, futuro Visconde da Parnaíba, proclama a Independência e assume a presidência da Junta do Governo do Piauí.

Ao receber, a 28.2.1823, a notícia dos sucessos na capital, Fidié delibera regressar, no comando de mais de 1.100 homens, bem armados. dispunha de 11 peças de artilharia e o seu exército se aumentara de contingentes do brigue infante Dom Miguel e da guarnição de Carnaubeiras, no maranhão. Alimentava o propósito de castigar os revolucionários de Oeiras.

Na viagem de volta, o militar português, sabendo que o centro das forças nacionalistas estava em Campo Maior, que aderira à Independência a 2.2.1823, para lá seguiu em marcha forçada. Na vila, o capitão Luís Rodrigues Chaves convocou os piauienses, mais de mil, a que se juntaram 500 cearenses, uns e outros mal armados de foices, espadas, chuços, facões e velhas espingardas de caça. Fidié desconhecia o número das forças inimigas, entretanto não ignorava que tinha de enfrentar matutos sem-disciplina nem instrução militar, mas dispostos a morrer pela causa da Independência.

Diz Abdias Neves:

"É só a loucura patriótica explica cegueira desses homens que iam partir ao encontro de Fidié quase desarmados".

O mato à margem do estreito rio Jenipapo se compõe de vegetação baixa. O caminho dos patriotas se bifurcava: o comandante João da Costa Alecrim e seus companheiros tomaram à direita e pela esquerda seguiram o comandante Luís Rodrigues Chaves e os seus soldados.

Era 13.3.1823, às 9 horas.

O primeiro encontro foi fortemente repelido pelos patriotas, mas Fidié atravessou o Jenipapo, escolheu posição, dispôs os seus homens. Logo se alvejaram os brasileiros por peças de artilharia. O recurso estava em atacar os portugueses ao mesmo tempo de todos os lados e separá-los. Houve tentativa, rechaçada. Outros ataques se deram, com grandes perdas de vida. A fuzilaria inimiga arrasava o campo. O combate durou até as 2 horas da tarde.

Alguns afirmam que houve 200 brasileiros entre os mortos e feridos. Outros registram 400.

Fidié conquistou vitória aparente. Perdeu parte de sua bagagem de guerra. Acampou a um quilometro de Campo Maior, na fazenda Tombador. Poucos dias depois, partiu no rumo do Estanhado, hoje União, e daí passou a aquartelar-se em Caxias, no Maranhão, onde piauienses e caxienses o cercaram e fizeram que ele se rendesse a 31.7.1823.

Assim se fez a Independência em terras piauienses. Aqui foi preservada a unidade nacional.

Escreve João Cândido de Deus e Silva:

"As próprias mulheres não ficavam indiferentes: mandavam os maridos, os filhos, os irmãos para a guerra e a fim de que levassem munições e armas, vendiam as jóias, se mais nada tinham a vender. A mulher piauiense mostrou, nessa ocasião, a grande fortaleza, o ânimo varonil de lendárias heroínas. Foi inexcedível de amor pelo triunfo completo da Independência - que a abraçara, desde as primeiras proclamações".

Glória aos vaqueiros e roceiros humildes, que lutaram sob o comando dos bravos Luís Rodrigues Chaves, João da Costa Alecrim, Francisco Inácio da Costa, Salvador Cardoso de Oliveira, Alexandre Nery Pereira Nereu, Pedro Francisco Martins e Simplício José da Silva.

Eles permaneceram durante muitos anos no esquecimento. Apenas algumas toscas pedras marcavam o lugar das sepulturas com os restos desses valentes, mortos sem que deixassem à posteridade ao menos os modestos nomes.

A gratidão dos piauienses, porém, um dia se positivou no Monumento do Jenipapo, na campina formosa - o lugar mais sagrado da nossa história.


A. Tito Filho, 13/10/1990, Jornal O Dia

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