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domingo, 12 de fevereiro de 2012

DIVERSÃO E CULTURA

Assim como Carlitos deu ao cinema dimensões novas, e soube acompanhar a marcha do tempo, compondo o filme na conformidade da evolução do gosto da crítica e do público, para harmonizá-los - Disney nunca desancou na busca de idéias e fórmulas - e foi ele que produziu a película de cenário desenhado, com intérpretes desenhados e figuras vivas de atores e atrizes. Assombroso o método. Disney, apenas Disney, chegaria a tal ponto: Mickey a dialogar com Frank Sinatra.

Passou o admirável artista a produção de filmes naturais, abdicando do desenho - e dessa atividade lucrou o cinema produções de grande aceitação. Utilizava-se de episódios quase desconhecidos da história americana e de outros povos, ou inventava narrativas despertadoras do mais vivo interesse, confiava os papéis a artistas obscuros, para lançá-los, e de cada um obrava o milagre de promover a glória e a fortuna. Disney mágico - o Disney dos filmes encantadores, nos quais a alma humana se mostrava plena de bondade. Os seus bandidos eram homens maus, como todos os bandidos, mas os seus heróis não praticavam ações fantásticas. Eram reais nos gestos, humanos nas atitudes, e podiam, desse jeito, ser imitado das crianças. Cinema educativo, realmente voltado para a educação do menino - o menino que foi a preocupação do artista imortal. Jamais sofisticou as suas comédias, todas plenas de alegria, de entretenimento, de candura, de afeto. Amava a criança e, amando-a sinceramente, dava-lhe, no filme, o ambiente do lar tranqüilo, em que convivem no seio da família: bem humorados, comunicativos, risonhos, compreensivos nos defeitos e confortados das qualidades de cada um, Disney talvez tenha suplantado Carlitos no ideal educativo. Sim, suplantou-o. Carlitos é pessimista: Disney foi otimista - doutor em otimismo.

Milionário dezenas de vezes, o feiticeiro dos estúdios de Burbank, em Los Angeles, Califórnia, não sabia guardar dinheiro. E veio a Disneylândia, o seu maior cometimento, a realização que fez de Disney uma impressionante personalidade do século XX.

A Disneylândia, visitada por cinco milhões de pessoas, anualmente, foi construída com cem milhões de dólares, num terreno árido em Anahelm, Los Angeles, Estado americano da Califórnia. Disney concebeu-a para divertir e educar. Uma cidade encantada distribuída em quatro distritos:

1) A terra dos Pioneiros (Frontierland), em que os visitantes apreciam a gloriosa luta dos primeiros povoadores da América. As lutas dos desbravadores com os índios. A paisagem social dos tempos iniciais dos Estados Unidos. Os uso. Os costumes. Os transportes. O "saloon", de prostitutas bem cuidadas, uísque ordinário, pistoleiros, coragem e covardia.

2) A Terra da Aventura (Adventureland), em que se mostram os mais interessantes aspectos da vida de muitas comunidades da terra, os seus animais com sabor de lenda, os seus usos, os seus trajes, as suas árvores, os seus encantamentos.

3) A Terra da Fantasia (Fantasialand), em que se reproduzem notáveis contos de fadas, e ali se vêem, em miniatura, a cabana dos Sete Anões, o borralho e a Gata Borralheira, e tantos outros cenários e personagens que, em todos os tempos, constituíram o patrimônio de contentamento da criançada.

4) A Terra do Futuro (Tomorrowland), é uma visão da vida além dos tempos atuais, a era dos foguetes espaciais e das viagens interplanetárias.

Tudo isto funciona, diariamente, com milhares de interpretes, com reconstituição de casas e veículos, com reprodução de cenários, e tudo funciona como a mais prodigiosa concepção da genialidade do homem.

Acredito no que educa, ou diverte educando. Somente.


A. Tito Filho, 27/09/1990, Jornal O Dia

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