Quer ler este texto em PDF?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

INSULTO

Ivan IV, o primeiro grão-duque de Moscou a tomar o título de czar, em se declarando sucessor pelo sangue do romano César Augusto, foi dos mais violentos e mais cruéis soberanos da história da humanidade.

Órfão de pai e mãe, submetido a tutela dos boiardos que se entredevoram para conquistar o poder, Ivan faz o aprendizado da astúcia e da crueldade à sombra dos protetores que, no entanto, o ignoram. Coroado czar em 1547, com 17 anos de idade, ele manifesta logo inicio uma autoridade assustadora. Sádico e místico, considera-se o vigário de Deus na Terra e se imagina desculpado antecipadamente por todos os seus desregramentos. Sua mórbida desconfiança o leva a ver por toda parte espiões e traidores. Manda torturar devotos favoritos. Até sente mais prazer quando comete injustiças.

Ivan gosta tanto de sangue quanto de mulheres. Casará oito vezes, sem se preocupar com a Igreja. Algumas das esposas morrem envenenadas, para satisfação do czar que prefere escolher as substitutas entre milhares de jovens em autênticos concursos de beleza.

Entretanto, não perde de vista de vista a missão política. Luta para largar seu reino, em batalhas sangrentas com poloneses, tártaros e suecos. A principio com sucesso, depois com incontroláveis perdas.

Quem era Ivan, o Terrível, o homem que matou o próprio filho e herdeiro? Que se divertia soltando ursos selvagens contra homens, mulheres e crianças? Que comandou o genocídio de Novgorod?

O retrato de Ivan feito por Henri Troyat, russo naturalizado francês, na sua autoridade de acadêmico, é verdadeiramente singular e oportuno, lançando uma luz serena, mas forte e clara, sobre a maneira de ser do povo russo, delirante, fanático e submisso, sempre corajoso até as últimas conseqüências.

Henri Troyat nasceu em Moscou, em 1911, como Lev Tarassov, nome mudado logo que chegou a Paris, em 1917, portanto, com apenas seis anos de idade. Naturalizado, cedo se consagrou a literatura. Foi Prêmio Goncourt em 1938 e é membro da Academia Francesa. Tem uma longa produção literária, variada, que inclui romances isolados, ciclos de romances históricos, biografias, ensaios, crônicas e narrativas diversas. No que toca a biografias, Troyat já publicou as de Dostoievski, Putchkine, Tolstoi, Gogol, Catarina, a Grande, Pedro, o Grande, e Alexandre I, todos personagens influentes nas artes e na história russas.

Sobre Ivan, o Terrível, na imprensa francesa, merece destaque um comentário de Alexei Antonkin, no "Temps-Économi Littéraire":

"Desde a História da Rússia, escrita entre 1816 e 1826, por Nikolai Karamzine, o livro de Henri Troyat é a mais inquestionável contribuição para p esclarecimento do reinado de Ivan, o Terrível. E as comparações com a Rússia de hoje são gritantes".

X   X   X

CARLSO EDUARDO NOVAES é, sem dúvida, o único humorista brasileiro de primeira linha que faz você continuar rindo na segunda, na terceira e assim por diante. E já que é assim, nada melhor do que a notícia da publicação de um livro seu, O País dos Imexíveis, uma nova coletânea de crônicas sobre o cotidiano brasileiro que é, ao mesmo tempo, a mais alegre história dos nossos dias...

Na hora em que todo mundo se mexe, será o Brasil o país dos imexíveis?

Mexe e remexe, estamos aí com mais um Plano em que muitos gostariam de atirar mexericos. Entretanto os mexericos são muitos e os mexeriqueiros e mexeriqueiras não param, melhor dizendo, vivem se mexendo.

E o Brasil? Imexível ou Mexível, escorre aqui pela pena bem humorada do sempre inovador Novaes, coadjuvado, literalmente, pela pena de Vilmar Rodrigues.

Imperdível!

Carlos Eduardo Novaes é o humorista mais diversificado no momento. Seus últimos sucessos têm acontecido na área teatral, onde, além de fazer o texto, ele sobe quase todos os dias ao palco para dar o seu recado. Continua mantendo, porém, uma constante na vida: não deixa de escrever as suas crônicas e delas faz um retrato bem humorado deste Brasil... dos imexíveis.

Este é o décimo-nono livro de Novaes publicado pela Nórdica. E o décimo-terceiro da série: "Histórias dos Nossos (Nossos?) Dias!".


A. Tito Filho, 21/09/1990, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário