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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

PROMESSAS

Num país faminto, em que o povo não pode ter civismo porque vive de pança vazia, num país abúlico, de milhões de analfabetos, o presidente da República faz o que lhe dá na veneta, e pode, querendo, chegar ao desmando e à prepotência.

No Brasil, o chefe do Executivo legislava quando, num ato de força, se fundava o sistema ditatorial, do jeito que praticou Getúlio Vargas, de 1930 a 1934 e de 1937 a 1945, ou da forma que estabeleceram os militares, de 1964 a 1985, épocas de severas e cruéis ditaduras. Sob o regime do presidente Fernando Collor vigora a MEDIDA PROVISÓRIA, criada pela Constituição Federal de 1988, em caso de relevância e urgência, circunstância que não se vem observando, e o presidente legisla em matéria sem as exigências constitucionais e que bem poderia ser objetivo de projetos de lei, normalmente.

Nunca vi o Brasil na situação dos dias que correm. Nada funciona. Deterioramento da educação e da saúde. Cultura abandonada. Megalópoles de problemas angustiantes. Insegurança social generalizada. Industria do crime por toda parte. Renda das pessoas em desnível insuportável pelos assalariados. Desemprego e subemprego. Incompetência. Instituição do ócio no funcionalismo público. Descrença nos homens públicos.

A euforia industrializante de Juscelino Kubistchek deu no que deu: a busca da cidade pelas populações do campo, para a fantasia do ganho fácil e de conforto, mas cujo resultado aumentou a favelização dos enormes centros urbanos e os apartamentos da população debaixo das pontes.

Na campanha presidencial de 1989, Fernando Collor de Mello fez promessas que o tornaram símbolo da esperança dos brasileiros. Liquidar-se-iam os MARAJÁS, indivíduos afortunados e privilegiados de ganhos absurdos. Dar-se-ia a moralização da vida pública. Derrotar-se-ia. A 15 de março de 1990 assumiu o fazedor de promessas. Chegou o Natal. Os marajás continuam a desafiar o governo, a burocracia brasileira prossegue o seu cortejo de malefícios, o processo, inflacionário martiriza no dia-a-dia da subida dos preços.

A única medida que se teve, até agora, foi a de confiscar o dinheiro dos brasileiros confiados aos estabelecimentos de crédito para que rendessem juros. O governo arrecadou-os prodigalizando mais aflições às classes necessitadas.

A ministra Zélia, rica de gestos autoritários, no começo do governo Collor apostava na inflação zero. Agora, pelos aparelhos de televisão, culpou os empresários e pede paciência.

Collor ataca os exploradores do povo, esquecido de que o seu governo aumentou de vez em quando os combustíveis, as taxas dos correios, o preço do pão e do leite, das passagens de ônibus e dos aviões. Como evitar que os industriais e comerciantes não aumentem os preços dos seus produtos, e o próprio governo oferece o exemplo de aumentos constantes?

A verdade verdadeira está na evidência de que os tecnocratas cada vez mais se desacreditam com os planos salvadores: Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão e mais que seja, um só deles acertou cousa alguma.

E milhões de brasileiros passam fome e vivem dias de medo e desesperança.


A. Tito Filho, 25/12/1990, Jornal O Dia

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