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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SUSPENSE

Suspense pertence ao vocabulário inglês. No meu modesto livro ANGLO-NORTE-AMERICANISMOS NO PORTUGUÊS DO BRASIL, que destacamos autores nacionais elogiaram, sem que merecesse registro ao menos de uma linha dos críticos e comentaristas piauienses, salvo os colegas da Academia, nesse livro defino SUSPENSE como momento de forte tensão no enredo de filme, peça teatral ou obra de ficção, certa ansiedade resultante de incerteza, mistério ou indecisão.

Faz pouco tempo a Academia Piauiense de Letras editou e entregou ao público "Um Drama de Consciência", do acadêmico e médico Salomão Chaib. Ofereci-o a vários jornalistas da terra, mas nenhum registro se fez dessa pequena (50 páginas) obra-prima.

Quando li os originais do trabalho de Salomão, lembrei-me de Eça de Queiroz, em "O Mandarim": "No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis de que a fábula ou a história contam. Dela nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, postas a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver; e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?".

Tocaria você a campainha?

Assim no livro de Salomão. Médico famoso vai operar coronel acusado de [ser] torturador. As vítimas ameaçam por telefone o cirurgião. Ou mata o paciente ou tem a filha raptada. Que fazer? A vida do violento militar se encontra nas suas mãos. Salva-lhe a vida ou a da filha? O livro deve ser lido pois nele se encontra a resposta.

Faz anos tenho muita admiração a Orlando Parahym, médico pernambucano de merecida projeção cientifica e literária. Possui, inclusive, estudo biográfico e crítico sobre o piauiense Otávio de Freitas, fundador da Escola de Medicina do Recife. Mandei o livro de Salomão a Parahym, que me escreveu pela seguinte forma: "Caro mestre e ilustre amigo Tito Filho. Agradeço-lhe a oferta do livro "Um Drama de Consciência", de autoria de Salomão A. Chaib. Ao que me parece, o escritor é profissional da medicina. Além disso, um escritor excelente. Estilo simples, claro e comunicativo. No que se refere à parte médica, aí tudo é perfeitamente descrito, revelando no escrito a personalidade de um cirurgião de alta categoria e longas experiências no ofício. Todas as minúcias acham-se referidas e discutidas a luz dos mais modernos conceitos da cirurgia. Se, no que tange à descrição empolgante do ato cirúrgico tudo se eleva às raias do inexcedível, cabe ressaltar o primoroso literato cuja valorosa personalidade se consagra modelar em todas as páginas em que descreve a intensidade psicológica do terrível drama de consciência vivido pelo Dr. Coutinho. Digo-lhe tais coisas, meu caro Tito Filho, depois de ter lido e relido essas páginas tão empolgantes de um livro capaz de prender nossa inteligência mercê do seu conteúdo admirável e forte, comovente e belo na sua opulência literária e humanística".

Palavras espontâneas de uma autêntica glória da Medicina e das letras de Pernambuco. Outras referências elogiosas me chagaram de várias cidades brasileiras.

E no Piauí? Nada. Registro algum se fez. Falta de interesse pela boa leitura? Desprezo ao que é nosso? Uma tristeza esta taba piauiense habitada de inúmeros sábios da Grécia.


A. Tito Filho, 31/07/1990, Jornal O Dia

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