Quer ler este texto em PDF?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

UM POUCO DE JORNALISMO

Estava eu no Rio de Janeiro quando, em 1945, a imprensa se libertou da censura de Getúlio Vargas. Lia os jornais da época e muita apreciava os fortes artigos que corajosos jornalistas escreviam contra a longa ditadura getuliana. Nunca me esqueci de Osório Borba, Rafael Correia de Oliveira, Carlos Lacerda, J. E. de Macedo Soares, articulistas severos.

Em 1946, criamos, na antiga capital da República, órgão LIBERTAÇÃO, em favor da candidatura de José da Rocha Furtado ao governo do Piauí. Luís Costa, Tibério Nunes, Virmar e Vinícius Soares e eu. Jornalzinho valente. Editado no Rio, vinha de avião para Teresina, onde se vendiam cinco mil exemplares. As edições e o frete eram custeados pelo deputado José Cândido Ferraz.

Já no Piauí, eleito Rocha Furtado, estive alguns meses na orientação do órgão "O Piauí", que circulava nos dias de quinta e domingo, e me foi confiado por Eurípedes de Aguiar. Posteriormente, fiz parte da redação de outras folhas, sempre partidárias, sob a responsabilidade de governistas ou oposicionistas.

Na década de 50, participei de "O Pirralho", com circulação semanal. Irônico, o jornal explorava sobretudo os aspectos ridículos das pessoas e da sociedade. Dirigi também revista literária, chamada "Paranóplia", nome de natureza culta, fundada pelos principais jornalistas da terra.

Em 1959 passei a direção de "Jornal do Piauí", que obedecia à orientação política do PSD, ou Partido Social Democrático. Dei-lhe redação diferente, sem xingamentos, de elegante linguagem, sem que se abdicasse das criticas a erros dos homens públicos. Uns dois anos depois, secretariei "Folha do Nordeste", jornal moderado, sério, de propriedade de João Clímaco de Almeida, que o dirigia de maneira elevada e respeitadora.

Trabalhei em "Folha da Manhã" e "O Dia", o primeiro de Marcos Parente, dirigindo com segurança por Araújo Mesquita, o segundo fundado por Mundico Santídio, com circulação duas vezes por semana. Quando foi adquirido por Otávio Miranda, ao órgão, que passou a circular diariamente, eu prestava a colaboração dos editoriais, no tempo em que à frente das edições se achava o talentoso Deoclécio Dantas.

Estive noutros jornais de Teresina, sempre a pedido dos seus proprietários ou editores, e cito com saudade os nomes de Josípio Lustosa, Bernado[?] Clarindo Bastos, Raimundo Ramos.

"Jornal do Piauí", na fase de José Vieira Chaves, preenche grande parte de minha atividade. Um dia contarei a história de seu diretor, figura humana que a gente não esquece.

Estas lembranças hoje têm o objetivo de falar da revisão dos nossos órgãos de imprensa. Os revisores são mal pagos. Trabalham nas madrugadas, sonolentos. Bondosos companheiros, embora às vezes os autores dos artigos não lhes perdoem os cochilos.

Na última quinta-feira, neste espaço, escrevi de 1987 a 1990, mas saiu de 1787 a 1990. tomei um susto. Ninguém pode ser tão velho. noutro ponto escrevi: DEPUTADOS FEDERAIS OU ESTADUAIS. Em vez do plural, publicou-se o singular DEPUTADO. Logo depois deixou-se isto: PELAS SABEDORIAS POPULAR. Redigi SABEDORIA POPULAR. Em certo lugar, engoliu-se a vírgula e suprimiu-se o ponto. em MACEDO se colocou em acento que não foi meu e saiu MACÊDO (com circunflexo). E outros GATINHOS. O pior, porém, se deu com INTENSÃO. Nunca grafei tal palavra pelo jeito que se publicou. Tenho certeza absoluta de que a palavra se escreve INTENÇÃO, com a letra cedilha, a única que leva cedilha.

Durante a longa vida jornalística que tem sido a minha, sempre os bons e inteligentes amigos da revisão me maltratam. Mas nunca deixei de desculpá-lo, porque conheço as dificuldades que enfrentam. Além do mais, quero-lhes bem e lhes ofereço, no percurso dos anos, os meus humildes préstimos. Peço-lhes, porém, que não mexam na minha INTENÇÃO, e deixem sair em INTENSÃO, arrasando a meu diploma de professor de português. Filho gratíssimo ao coleguinha, a quem mando um abraço pelo obséquio.


A. Tito Filho, 22/12/1990, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário