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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O BOM CONTISTA

Afonso Ligório nasceu no território piauiense de Luzilândia. Jornalista. Fez algumas andanças e fixou-se em Brasília, dedicado ao magistério e a literatura e em ambos os misteres tem alcançado triunfos verdadeiros. Consistia dos melhores, de raro poder de observação. Publicou SÓ ESTA VEZ, já traduzido para o espanhol e agora enrica a literatura nacional com A HORA MARCADA, sobre que escreveu mestre M. Paulo Nunes:

"A propósito do anterior livro de contos de Afonso Ligório Pires de Carvalho - Só Esta Vez... Histórias contadas (Editora Thesaurus - Brasília-DF) já havíamos tentado uma definição do tipo de gênero por ele adotado quando o identificamos com o "conto masnfieldiano" por oposição ao "conto história" com começo, meio e fim, cuja tradição radica em Boccacio e teve modernamente como representante maior Maupassant, entre nós, o gênio de Machado de Assis.

Com este seu novo livro - A Hora Marcada, retoma ALPC o mesmo fio da narrativa no apuro de uma técnica de expressão em que o deslance é engendrado de forma a levar o leitor a sentir uma espécie de "soco no estômago", conforme a expressão do romancista português Fernando Namora, em seu último livro, publicado antes da morte" - jornal sem data.

São do mesmo autor as considerações a seguir transcritas, na caracterização desse gênero de narrativa: "Ainda recentemente, o Nobel Isaac B. Singer chamou ao conto uma "fatia de vida", decerto em oposição ao romance, que seria, pelo que se deduz, a "vida toda". Mas essas "fatia" terá de ser pois, altamente significativa. Na sua concisão no seu angulo de focagem restrito, o conto precisa de ser tão eloqüente que o leitor, através de uma breve personagem captada num instante decisivo e num contexto delimitado, consiga reconhecer ali a verdade da paisagem humana e a vida tal como ela é, na sua infinita complexidade. Daí que se possa entender muito bem que haja quem prefira Maupassant a Victor Hugo ou Balzac e Tchekhov ou Gogol a Tolstoi ou Dostoievski. Uma gota de água pode ser mais reveladora que uma enxurrada". (Cf. Fernando Namoro, in Jornal sem data, pág. 146 - Publicações Europa-América-Portugal).

Esta é pois a receita adotada por Afonso Ligório Pires de Carvalho nestes seus novos contos - captar o instante essencial ou a "fatia de vida" que possa caracterizar uma emoção, um estado de espírito definidores da condição humana.

E a realiza com uma técnica apurada de tal sorte que os contos reunidos nesta coletânea reinventam cada um deles a vida em seus momentos mais significativos. Contos como Depressão, por exemplo, podem ser emparelhados com as melhores narrativas do gênero entre nós.

Não poderia deixar de salientar aqui, como o fiz em outros termos, da vez anterior, que Afonso [é] um dos mais representativos valores da geração piauiense que revelaria figuras da altitude intelectual do poeta Hindemburgo Dobal e dos romancistas O. G. Rego de Carvalho e José de Ribamar Oliveira.

Por isso recorro ainda às anotações de Fernando Namora, no livro citado, ao fazer o elogio de seu contemporâneo Eduardo Lourenço: Tentando, e numa paróquia de tribalismo, permitiam-me uma anotação tribalista: sabe que Afonso Ligório Pires de Carvalho seja dos da minha geração e que, enfim, ter bebidos as primeiras águas na matriz que também a minha. Não é por acaso que muito do modo de ser de Afonso é o que é. A generosidade e um sentido de justiça que inventam".


A. Tito Filho, 23/11/1990, Jornal O Dia

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