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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

FUNÇÃO DAS ACADEMIAS

As instituições literárias devem cuidar de objetivos diversos. Não cabe que os seus membros se restrinjam a compor poemas e escrever livros de ficção. As verdadeiras entidades de cultura fiam mais fino. Não esquecem a coletividade e procuram ajudá-la nos seus anseios, educando-a no conhecimento dos aflitivos problemas humanos. Outras vezes convocam escritores, para o conhecimento de novos processos de criação artística. Bom ainda que se consiga a presença de vultos ilustres para que deponham sobre o passado e assim esclareçam dúvidas e equívocos.

A Academia Piauiense de Letras tem cumprido deveres e obrigações neste particular. Figuras do mundo cultural têm vindo ao Piauí por convite do sodalício, que consegue junto a administração pública e as pessoas dos convidados, que jamais cobraram um centavo pelos valiosos serviços que prestam a gente e sobretudo aos moços piauienses. Citemos os mais recentes, os que nos proporcionaram lições oportunas nestes últimos cinco anos, vindos por vontade de ajudar a nossa Casa de Lucídio Freitas: Esdras do Nascimento, Jaime Bernardes, diretor-proprietário da famosa editora Nórdica; Assis Brasil, Afrânio Coutinho, nomes que deixaram proveitosas lições aos estudantes da Universidade Federal do Piauí. Outro exemplo de dedicação pode dizer-se do professor Correia Lima, cientista de fama internacional, especialista neste mal do século, a AIDS, com duas palestras educativas sobre o assunto, uma aos jovens, no amplo auditório da Escola Técnica Federal, outra aos acadêmicos, jornalistas e convidados especiais na sede da Academia. O nosso companheiro Vilmar Soares conseguiu a visita.

Deu-nos a honra da presença o presidente da Academia Brasileira de Letras, esse admirável Austregésilo de Athayde, que convidou conosco cinco dias, simples, amável, na velhice verde dos 90 anos, e que prestigiou a Academia e as nossas entidades de cultura pelas lições oferecidas na palavra entusiasmada e contagiante.

Chegaria a vez do mito, cuja vinda conseguimos por intermédio da professora Anita Leocádia, amiga de rara grandeza espiritual. Sim, veio ao Piauí o capitão Luís Carlos Prestes. Visitou os sítios históricos em que ele acampou, com os seus barbudos: Oeiras, homenageado pelo Instituto Histórico e pelo líder B. Sá; Floriano, em calorosa recepção, Monsenhor Gil, a antiga Vila de Natal, de onde o chefão dirigiu o cerco de Teresina - e finalmente esta capital do Piauí, cercado de admiração e respeito, recebido no palácio governamental, na sede do Poder Judiciário, na Assembléia Legislativa, a Prefeitura, na Câmara dos Vereadores e na Academia. Por toda parte Prestes restabeleceu a verdade histórica sobre a marcha formidável pelo interior do Brasil.

Neste outubro de 1990 o nosso conterrâneo Vilmar Soares prestou outro valioso serviço ao Piauí com a vinda do grande professor Affonso Berardinelli Tarantino à Teresina, por convite da Academia. Trata-se de médico de nomeada, membro da Academia Nacional de Medicina, mestre da Universidade Gama Filho, na Universidade do Rio de Janeiro e na Escola Carlos Chagas. Os acadêmicos confiaram-no às nossas instituições médicas a coordenação de um jovem doutor, sério e dedicado, Antônio de Deus. Tivemos todo o apoio do governo piauiense. Foram 15 horas de aulas sobre aspectos da Pneumologia. Palestras úteis e oportunidades a respeito de pneumonia, doenças pulmonares crônicas, derrame pleural, tuberculose, tabagismo, entre outras partes do extenso programa.

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Paulista de nascimento e carioca de afeição, Tarantino me impressionou pelas maneiras simples de palestração. Não parece o professor de tantas láureas. Nem o cientista de fama merecida. Gosta da humanidade, de servir os outros. Apaixonou-se por Teresina, talvez pelos cenários miseráveis do processo de favelização da capital piauiense. Dá pouco valor aos bens materiais. Virtuoso, cultiva princípios maravilhosos que dignificam o homem. Escreve com a compostura do zelo da língua, no estilo vivo, original, gracioso, como escreveram e escrevem os grandes médicos, em falhas, cativo da frase correta, mas sem os pruridos antipáticos das gramatiquices.

Tarantino deu aula de beleza espiritual na Academia Piauiense de Letras. Senti que ele guarda imenso amor a memória da genitora, de cujo túmulo, em São José dos Campos, ele cuida, com os instrumentos da jardinagem, no comparecimento mensal na cidade, na distância de 300 quilômetros.

Aos acadêmicos, na despedida, acentuou que teve tratamento igual ao do Piauí em dois passeios quando visitou Portugal e quando tinha o carinho e o afeto da mãe querida.


A. Tito Filho, 30/10/1990, Jornal O Dia

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