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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

TECNOCRACIA

Conquistei o titulo de bacharel em direito, com distinção em quase todas as disciplinas do curso, e desde rapaz gostava muito de estudar a língua portuguesa. Iniciei o exercício de cargos públicos na qualidade de delegado de trânsito e costumes de Teresina, do qual solicitei exoneração para retornar ao Rio e prosseguir estudos. Fiz concurso e me aproveitaram no antigo instituto dos comerciários na capital piauiense e voltei a minha cidade do meu xodó para assumir as funções e concluir o curso jurídico, o que foi feito.

Em 1951, o governador Pedro Freitas me fez convite para lecionar e me nomeou professor de português do Colégio Estadual e de sociologia educacional na antiga Escola Normal. Dei conta do recado, como podem atestar os meus antigos alunos e alunas. Fiz concurso sério e difícil.

Em 1954, o governador Pedro Freitas convocou-me a Karnak e me convidou para dirigir o Colégio Estadual. Antes, em 1952, os colegas de jornalismo elegeram-me presidente da recém-criada associação dos Jornalistas, reeleito por dois mandatos mais. A entidade passou a sindicato.

Nas funções de diretor do Colégio Estadual me conservou o governante seguinte, general Gayoso e Almendra, até o final do mandato. Tive substituto no governo Chagas Rodrigues. O educandário tornou-se modelar. Respeitado. Exemplo de ordem e disciplina.

Ano de 1962, o suplente de senador Clark substituiu Leônidas Melo, que se licenciara, no Senado, e me indicou para a presidência da Comissão de Abastecimento e Preços do Piauí ao governo federal. Enfrentei o comércio ilegal do trigo, da carne, as cobranças altas de entrada de cinema, a exploração no comércio do pescado, os vendedores de leite. Venci. Contratei Luiz Noronha para trazer trigo da Bahia e fretei aviões e trouxe carne do Maranhão, na fronteira com o sul do Piauí. Importei peixe do amazonas. E assim passei adiante. A verdade está em que tudo passou a ser vendido ao público por preços justos de acordo com a fixação honesta dos valores.

Exerci a elevada função de secretário da Educação e Cultura, no governo Clímaco de Almeida. Realizei administração de alto nível, conforme se vê do depoimento de Itamar Brito, em história publicada sobre esse órgão público. Em 1975, no primeiro governo Alberto Silva, recebi a incumbência de dirigir a Secretaria da Cultura, por dois meses, em que editei uns vinte livros, promovi a festa de reinauguração do teatro 4 de Setembro, maravilha de festa, sem quase despesa para os cofres públicos.

Desde 1971, sou presidente da Academia Piauiense de Letras, reeleito seguidamente para vinte anos de mandatos.

Nunca pedi cargos a governador algum de minha terra. Convidaram-me para os cargos provocando-me surpresas. Nunca fui técnico de cousa alguma, exceto da leitura, da honestidade, do desejo de fazer as cousas com o rigoroso cumprimento da lei. E não preciso de empregos, pois vivo modestamente, mas sem dividas e sem picaretagens.

A tecnocracia instituída pelo presidente Fernando Collor para administrar a República corresponde a fracasso generalizado. O próprio governo aumenta os combustíveis, aumenta as taxas dos correios, aumenta preços do pão e do leite, aumenta as taxas dos correios, não permite que os operários ganhem o necessário para as necessidades primárias da vida. A inflação vem subindo sempre inquietando as camadas populares. Há no Brasil um governo de tecnocratas, cujas palavras ao público, nas televisões, ninguém entende. Além disso, falam um péssimo português, o economês.

O futuro governo de Freitas Neto deve ter técnicos, sem esquecer que estes nem sempre se guiam acertadamente.


A. Tito Filho, 18/12/1990, Jornal O Dia

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