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terça-feira, 8 de novembro de 2011

DUAS REVOLUÇÕES

Desde a campanha civilista de Rui, no tempo da candidatura presidencial de Hermes da Fonseca, o país entrara em fase de agitação política. Veio o assassínio de Pinheiro Machado, o grande dominador de homens e de votantes. Matou-o, junto à escada do hotel dos Estrangeiros, Manso de Paiva.

Foi tranqüilo o período presidencial de Wenceslau Brás. Tranqüilo internamente, mas a nação se devotava no esforço de guerra contra a Alemanha. No fim do governo de Epitácio Pessoa, surgiram dois candidatos à sucessão: Artur Bernardes, apoiado pelo Catete, e Nilo Peçanha, oposicionista. Eduardo Bittencourt, do "Correio da Manhã", publicou, como de autoria de Bernardes, uma carta ofensiva aos brios do Exército - fato que determinou forte agitação nos quartéis. Inflamaram-se os ânimos no Clube Militar, que Epitácio Pessoa mandou fechar.

Bernardes negou categoricamente a autoria da carta. Sustentou que ela era apócrifa. Haviam-lhe imitado, e muito bem, a letra. O original da missiva foi examinado por grafólogos conceituados, inclusive em Paris. Um deles foi de parecer que a carta era realmente de Bernardes. Outros diziam que não. Muito depois se verificou que a carta era, de feito, falsa.

A oficialidade do Exército, capitães e tenentes notadamente, passou a conspirar, e a 5 de julho de 1922 estourou o movimento revolucionário contra o governo, chefiado pelo capitão Euclides Hermes da Fonseca. Partiram os revoltosos do forte de Copacabana. A história registrou que eram 18 homens - os 18 do forte - embora depois o brigadeiro Eduardo Gomes confessasse a Carlos Lacerda que não eram 18. Do grupo faziam parte Siqueira Campos (que morreu gravemente ferido num hospital), Eduardo Gomes e Otávio Correia, entre outros. Este último nada tinha com a coisa. Estava de passeio pela praia, era civil, e incorporou-se ao movimento: "Quem olhar a fotografia histórica dos 18 do forte, apanhada minutos antes do choque com as forças legalistas, verá nela um civil, apenas um, de carabina em punho, marchando também impávido para a morte. Que desígnios secretos levaram aquele moço, rico de esperanças num presente que lhe era feliz, abastado e culto, incorporar-se àquela aventura que seria de loucos se não fosse o ideal que a todos empolgava? Que papel representava naquele grupo suicida de militares Otávio Correia? Ele naquele instante, era, nada mais, nada menos, do que o aplauso do povo ao gesto heróico do pequeno punhado de jovens militares: simbolizava o protesto civil das multidões sofredoras do país que, mais cedo ou mais tarde, haveria de ascender, de se politizar, de se democratizar em busca de dias melhores para o Brasil".


A. Tito Filho, 10/02/1990, Jornal O Dia

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