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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CRÍTICA

Sobre o livro de Cunha e Silva, o escritor Vasques Filho publicou o seguinte, em Tribuna do Ceará, de Fortaleza, edição de 8-2-1990:

"Gentileza da Academia Piauiense de Letras, recebemos A REPÚBLICA DOS MENDIGOS do consagrado jornalista e acadêmico CUNHA E SILVA nosso conhecido de longas datas.

O volume tem boa apresentação gráfica, com encadernação excelente e até sofisticada, foi editado em 1984, 135 páginas de bom conteúdo, com apresentação de Cunha e Silva Filho, enquadrado pelo autor no gênero de novela. Cunha e Silva criou a personagem principal do livro, Simão Lopes, a partir da migração dos pais, cearenses, em tempo de seca, que terminaram por serem proprietários de terras às margens do rio Poti, as quais, por ele herdadas, e possuído de caráter humanitário, as transformou em uma república de mendigos, recolhidos nas ruas, dando-lhes significativa dignidade, e, pouco a pouco, chegando a uma comunidade praticamente auto-suficiente, na intenção de formação de uma comunidade modelo, em que nada faltasse. Com muitas digressões sócio-filosóficas, com citações de autores e de personalidades reais, o que seria ficção, no início, nas intenções do autor, vai-se tornando uma exposição sociológica do real, tendendo a comunidade, que deveria ser inatacável, para os lados de um amalgama entre o bem e o mal, sempre bem expostos em linguagem simples, com citações de filosofia e de sociologia, dando nomes de autoridades reais e de filósofos e sociólogos de renome, passando a narrativa, a nosso ver, para mais uma teoria sobre formações comunitárias já existentes no mundo atual. E aqui discordamos de que o conteúdo seja enquadrado no gênero da novela, para se tornar num ensaio de valor, com a forma de narrativa jornalística, não fora o autor um dos melhores jornalistas piauienses, por todos consagrado e reconhecido, abrindo, no volume, perspectivas para um debate de grande amplitude social sobre os mais diversos temas sociais e políticos, quanto de regimes autoritários e democráticos de governo, profligando os excessos dos poderes, as injustiças, a irresponsabilidade dos governos, a miséria social não somente regional como nacional e até mundial, no mundo em que vivemos hoje, enquanto canta louvores ao bom desempenho das comunidades bem governadas e bem organizadas, exaltando a prática do dever cívico, do amor ao próximo tão pregado pelo cristianismo, o sentimento filantrópico muito falado mas pouco praticado sobretudo pelas classes de maior poder econômico, tudo no sentido de aprimoramento de comunidades mais humanas, com maior quantidade de virtudes do que de vícios, em que o amor fraterno seja sempre levado em conta por todos os seus membros, desde o governantes e seus governados, do mais rico ao mais pobre.

A nosso ver, Cunha e Silva, ao invés de uma novela, porquanto a ficção é elemento secundário, escreveu um belo ensaio, com fulcro nos estudos filósofos e sociólogos que cita a cada passo da narrativa, valorizando o livro o propósito de bem servir à pátria e à humanidade em geral".


A. Tito Filho, 17/02/1990, Jornal O Dia

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