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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

DENOMINAÇÕES

Contei a história do prefeito de município maranhense, certa feita, doente de puxa-saquismo. Quando Jânio Quadros subiu ao poder, o sujeito deu praça inaugurada o nome do presidente, que, com poucos meses, deixou os palácios de Brasília. Pouco tempo depois, Goulart o substituía e logo o prefeito mudou o nome do logradouro: agora passava a praça presidente Goulart, derribado em 1964. O prefeito achou melhor, diante da instabilidade política, batizar a praça de PRESIDENTE ATUAL.

Teresina foi também rica de chaleirismo ou bajulação. As nossas ruas tinham denominações imperiais. Sucedeu a queda do imperador, em 1889, e o puxa-sacos do Conselho Municipal depressa fizeram as substituições: a rua da Imperatriz passou a Quintino Bocaiúva. Chamou-se Cesário Alvim a rua do Imperador. A praça Campo de Marte tomou nova denominação: praça Floriano Peixoto. Líderes republicanos ganharam homenagens: Benjamin Constant, Campos Sales, Rui Barbosa. A praça Conde D'Eu, genro do imperador, seria Quinze de Novembro. A ânsia de atitudes bajulatórias fez que os legisladores substituíssem batismos tradicionais e populares como rua da Estrela, rua da Glória, rua Grande, rua Bela, rua do Amparo, rua Augusta, rua das Flores, rua dos Negros, rua da Campina, rua do Pequizeiro.

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Às vezes a substituição provém da sensibilidade do momento.

Em 1930 dois candidatos queriam a presidência da República: Getúlio Vargas, apoiado por Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba, que indicou o vice, João Pessoa, que governava os paraibanos na época. O outro era Júlio Prestes, sustentado por são Paulo e pelo resto dos Estados. A campanha desenvolvia-se sob paixões e emoções. A 26 de julho de 1930 João Pessoa viajou ao Recife, para visita a amigo enfermo. De tarde, sentado a uma mesa da Confeitaria Glória com um grupo de amigos, dele se aproximou o advogado João Dantas, seu inimigo pessoal e político. Sacou de um revólver e disparou três tiros, matando o candidato na chapa de Getúlio.

Manifestações de protesto no país. Luto por toda parte. Apressou-se o movimento quartelesco de 1930, contra o qual já se tinha manifestado o próprio João Pessoa. Com a morte do líder, os rebeldes derribaram o governo de Washington Luís.

Em Teresina, o bonito nome de Aquibadã, assim batizada a praça do Theatro 4 de Setembro, passou a João Pessoa, até que outra lhe dessem, a de Pedro II.


A. Tito Filho, 26/07/1990, Jornal O Dia

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