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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

MANIA

Mais uma mania nacional, a de identificar e discutir as causas da violência no Brasil, sobretudo a urbana. Numa das tevês nacionais, certa apresentadora ajunta certas celebridades duvidosas, psicólogos, sociólogos, atrizes, pintoras, e de modo de sábia Grécia, a coroa lança falação sobre a violência, e os convidados passam a derramar tolices sem conta. Causas, dizem eles, ora pois sim, a impunidade, o cumprimento das penas pela metade porque as cadeias estão superlotadas, a Polícia não presta e outras asnices de igual teor. Não sabem esses doutores o que dizem ou têm interesse em esconder a verdade.

As causas são profundas. havia violência quarenta anos passados? A violência constitui processo de que se utiliza o submundo dos famintos, dos favelados, ou que padecem as tristíssimas conseqüências de uma sociedade plena de injustiça sociais, dividir entre poucos ricaços e milhões de miseráveis. quem desperdiça neste país em viagens maravilhosas, em coquetéis, em futilidades, em festanças, casamentos de luxo, debutações de estroinices? O empresariado de milhões, no momento pagando altíssimos resgates em dólares. Quem fez deste país um covil de ladrões engravatados, bons vivedores à custa do tesouro nacional? Por onde andam os responsáveis pela vida desumana das cidades brasileiras? Em que se transformou Brasília, a loucura de certo presidente preocupado com a glória das glórias de haver criado a monstruosidade do cerrado, em momento angustioso da economia nacional? A Brasília de Lúcio Costa e de Niemeyer resume-se hoje na maior favela do mundo.

Um país em que os inocentes suportam cruel abandono moral, anulando-se papel reservado à família e à escola, não podia ser feliz nem gozar de tranqüilidade. A família e a escola arruinaram-se. As crianças passaram a vaguear pelas ruas, expostas às perversidades de todo gênero. Arremessadas à escola, esta se encontra confiada à mais perfeita irresponsabilidade de falsos governantes e falsos educadores.

Milhões de deserdados, famintos, andrajosos, sem quaisquer direitos na vida, sem lar, sem alimento, sem teto, orientados por uma televisão que protege crime e criminosos, estupros, degeneradores sexuais, o luxo dos marajás, o uísque, só os cegos que não querem ver discutem, na nefasta televisão brasileira, as causas da violência, inexistente quarenta anos através.

Violência é revolta contra as dissipações dos poucos ricos deste país, insensíveis aos dramas da explosão social que se aproxima. A fome é má conselheira. A injustiça gera a vingança.


A. Tito Filho, 22/07/1990, Jornal O Dia

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