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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

PERVERSIDADE

Faz uns vinte anos, mais ou menos, que proclamo a podridão das elites brasileiras, de quase todas, pois existem algumas exceções nas camadas da alta burguesia ainda conscientes de suas responsabilidades. As elites são perversas. Quando Teresina ainda não possuía sistema de televisão, as emissoras e os jornais publicavam o apelo de senhoras ricas da capital piauiense: elas queriam que cada endinheirado oferecesse um sapato velho para o Natal dos pobres. Corri à Rádio Clube, na época dirigida por Walter Alencar, e protestei contra tamanha humilhação. As ricaças da estroinice pretendiam fazer CARIDADE CRISTÃ à custa da miséria alheia, e cada miserável teria uma festa natalina de benemerência com o presente de um par de sapato usado, de intenso perfume de chulé.

O presidente eleito da República, Fernando Afonso Collor de Melo, retornou de viagem ao exterior. E no avião, na viagem de regresso, perguntou-lhe o repórter sobre os ombros que de quem caíam as responsabilidades por esse vergonhoso processo inflacionário que atormenta e sacrifica os brasileiros. Não titubeou o futuro mandatário em indicar as elites como responsáveis pela espoliação vigente no Brasil. Basta que se leiam os colunistas sociais, o noticiário do soçaite, e logo o quadro nu e cru aparece em toda a sua rudeza: só roubando se desperdiçar dinheiro a rodo nas festanças de bodas de prata e ouro, nos casamentos das filhas, nas debutações, nas festocas e nos embalos de aniversários natalícios. Correm soltos champagne, uísque, deglute-se sem parar salgadinhos e outros empanturramentos barrigais.

Para cobrir as despesas das festanças, as elites trabalham? Nunca. De onde suprimem tanto dinheiro? Do processo cartorial. As elites vivem nos peitos cheios do tesouro, roubando dos brasileiros, mamando nos cofres públicos, desavergonhadamente. Do Acre ao Rio Grande do Sul. As elites estão liquidando os restos de civismo brasileiro, e provocam as violências e os assaltos, porque a ninguém é dado viver com salários de fome.

Collor assegura que liquidará a perversidade criminosa das elites nacionais, das que, como diz o futuro presidente, não enxergam além do próprio umbigo.


A. Tito Filho, 16/02/1990, Jornal O Dia

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