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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O MITO DO CLIMA

Leio os jornais de Teresina deste começo de semana. Uns dois deles publicam notícias espantosas sobre o clima reinante na cidade. Gente debaixo de muito sofrimento. Água em quantidade para que se evitem desidratações nas crianças e nos idosos. Calor infernal. Os capetas felizes, alegres e recompensados. Outro matutino estampa a notícia de que um avião deixou de levantar vôo por causa da quentura danada, fato que se verificaria em qualquer lugar cuja temperatura tivesse condições idênticas.

Veja-se Pereira da Costa, na Cronologia Histórica do Estado do Piauí.

Conta ele em 1822 se fizeram no Piauí as primeiras observações meteorológicas, dirigidas pelo engenheiro Benjamim Franklin de Albuquerque Lima, chefe da comissão de melhoramento do rio Parnaíba. Houve mais de mil observações, das quais H. Morize, em Esboço de uma Climatologia do Brasil, escreveu conclusões a respeito da capital do Piauí pela seguinte forma: "A temperatura média anual tomada às 9 horas da manhã é de 26º. Os meses mais quentes são os fins de estação quente, isto é, de setembro a dezembro, cuja temperatura é em média 28,5º; o mais fresco, que é o de maio com 26,1º, é o último da estação chuvosa".

Clodoaldo Freitas, doutor em assuntos dos primeiros tempos de Teresina, escrevia em 1923: "O clima de Teresina acompanha as estações. No inverno é úmido e frio; nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro o clima é quente e o calor abafado. Nos meses de junho, julho e agosto o clima é seco e ameno e as noites frias. Nestes três meses, na mata que acompanha o rio Poti, o frio das noites é intensíssimo".

Bem verdade que essas circunstâncias padeceram modificações. Para alimentar a velha usina elétrica, árvores e mais árvores foram derribadas. Chegou o asfalto. O número de veículos hoje derrama abundante e nociva fumaça pelos canos de descarga.

No meu livrinho Teresina Meu Amor escrevi:

No mês de janeiro, o avião parte para o Rio de Janeiro. Quando se fazem os preparativos da aterrissagem, o microfone de bordo avisa:

- Daqui a dez minutos estaremos descendo no aeroporto do Galeão. A temperatura local é de 40 graus.

Os passageiros do jato permanecem mudos. Ninguém ri.

Quando o jato, de setembro a novembro, se aproxima de Teresina, o microfone de bordo informa:

- A temperatura é de 30 graus.

Todos riem”.

Criou-se a imagem de que Teresina vale um inferno de calor, uma caldeira infernal. Os próprios piauienses se encarregam dessa publicidade infiel. Mas os nossos meses mais quentes são os de setembro a novembro, com uma média de 30 graus centígrados de temperatura.

No verão do Rio de Janeiro, o carioca, caso queira, pode estrelar ovos no asfalto da cidade.

Observem o depoimento do grande médico Silva Melo, em Panoramas Norte-Americanos, sobre o calor de Nova Iorque, nos Estados Unidos: "A minha permanência em Nova Iorque foi durante os meses de junho, julho e agosto, os meses mais quentes do ano, de pleno verão...

As noites eram sufocantes e os dias tremendamente quentes...

Em Nova Iorque houve naquele dia 9 mortos por insolação e o termômetro no Central Park marcou ao sol 142 graus, mais de 60 centígrados. Os jornais descreviam nova Iorque como um imenso forno de cimento e asfalto, cujo calor justificava realmente tal comparação...

O calor era tão intenso que se me tornava necessário mudar de roupa mais de uma vez durante a noite, molhando o travesseiro e o colchão".


A. Tito Filho, 19/03/1970, Jornal O Dia

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