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terça-feira, 4 de outubro de 2011

LEITURA

Quando ginasiano, em Teresina, nos domingos, eu fazia compras para leitura no M. A. Tote, casa de revistas de atualidades e literárias, entre as quais "Noite Ilustrada", "Carioca" e "Vamos Ler", do Rio. Gostava desta última e colecionei muito tempo as suas edições. Os livros de minha predileção, adquiridos semanalmente, eram os da Coleção Terra-Mar-e-Ar, de aventuras, autores estrangeiros. Eu apreciava Emílio Salgari. Outra agradável série de romances de variado gênero me fugiu da memória. Custava cada exemplar dois mil réis, livro de tamanho pequeno. Na interessante coleção fiz leitura de "A Patrulha da Madrugada", que o cinema aproveitou para excelente filme de aviação; "Nana", de Zola, e obras de autores russos e ingleses. Muito me robusteceram a inteligência os livros de Edgar Rice Burroughs (Tarzan) e Júlio Verne. Li-os quase todos de ambos os autores.

Teresina, na década de 30, possuía uma loja bem sortida, espécie de bazar de mil utilidades, sem que lhe faltassem edições literárias de Portugal e do Brasil. Tratava-se do estabelecimento comercial de Juca Feitosa, na antiga rua Bela. Nele adquiri romances de Alencar, Bernardo Guimarães, Manuel de Macedo, Camilo Castelo Branco, Pinheiro Chagas. Deliciosos para a minha adolescência. Custavam pouco e tinham aspecto pobre, com capas extravagantes.

Enquanto alguns arrotam leituras extraordinárias, ricas de temas psicológicos e de modernidades, como se costuma dizer, contento-me com meu caubói de dormir, para os instantes de conciliação do sono gostoso. Ponho-me no meio de bandidos, assassinos, mexicanos atiradores de faca, pontarias certeiras com os colts fumegantes ou com os sharps de longo alcance, deliciando-me com o mocinho alto, forte, bonito, que não erra o tiro na testa do malfeitor ou derriba cinco capadócios de bofetadas seguras. Deixo a leitura mais cuidadosa para os domingos, meditando nos assuntos, guardando na cabeça as lições que obtenho.

Neste 1990, saboreei de novo "Os Pioneiros", de Fenimore Cooper, com a sabedoria do Juiz Temple, que sentia a inutilidade da lei como garantia de justiça. Juiz sábio, para quem a lei representava arma dos ambiciosos.

Li "Carolina", que comprei faz tempo. Livro admirável de Dreiser, a revelar a solidariedade entre os miseráveis, os que têm fome. O autor mostra que os impulsos básicos do homem se voltam para o dinheiro, para o conforto, para o poder.

"Os Grotesos", de Andersen vale um romance de deformação psíquica das pessoas nas pequenas comunidades, pela perda do amor. E em "O Grande Gatsby", Fitzgerald sustenta que só a riqueza permite ao homem viver a vida que ele concebe. A vida é brutal e intolerável quando lhe falta imaginação.

Como a gente vê, realizei proveitosa leitura nestes domingos dos meses iniciais de 1990. Cito quatro romances, deixando de citar outros livros de viagens, história, crítica, estudos sociais, comunicação, o que ficará para outra vez.


A. Tito Filho, 26/04/1990, Jornal O Dia 

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