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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ENTIDADE DESACREDITADA

Houve uma estupenda criação no principio do século XIX, a máquina, responsável pela formidável revolução industrial que hoje angustia a humanidade. Com o advento da máquina, a propriedade das nações passou a apoiar-se na energia do combustível. A máquina devora, aos milhões e milhões de toneladas, montanhas de carvão de pedra e rios de petróleo, que se queimam nos navios, nas locomotivas, nas fábricas e nos motores de explosão. O mais comum dos combustíveis citados, nesta gigantesca sociedade de consumo industrial, não cabe dúvida que se chama petróleo. Povos ricos são os que o exploram. Pobres, os explorados. Não é possível desconhecer a verdadeira causa do progresso de alguns países, as excepcionais condições geológicas de que desfrutam. Causas étnicas, sociais e políticas ocupam, com rigor, lugar secundário.

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Dois países nos dias atuais atraem as atenções do mundo. Iraque e Kuweit. Ambos ricos, o primeiro tem renda per capita de uns mil dólares, o segundo chega talvez a 15 mil. O Kuweit pertencia ao Iraque, uma espécie de província. Ingleses e americanos, farinha do mesmo saco e vinho do mesmo tonel, sempre agiam de modo matreiro e esperto desde que existem. Fomentaram discórdias entre esses árabes e tornaram o Kuweit independente, abocanhando-lhe a riqueza petrolífera. Passaram a donos do combustível do antigo pedaço de terra, circunstância que gerou neste 1990 a invasão e a reocupação por parte das forças iraquianas.

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A história está plena de acordos entre nações para que se resolvam pacificamente questões e divergências e se evitem conflitos armados, guerras e intranqüilidades coletivas. Revivê-los seria indigesto à inteligência. A penúltima vez saiu da cachola do presidente norte-americano Wilson, a Liga das Nações, que, desaprovada pelo Senado do Tio Sam, desapareceu com pouco tempo. Após a Segunda Grande Guerra Mundial, surgiu a Organização das Nações Unidas, de elevados propósitos na papelada que os seus representantes assinaram objetivo fundamental? A paz no mundo. A tranqüilidade do homem. Quantas guerras cruentas e malvadas já se fizeram depois da existência desse organismo sem autoridade moral? Recorde-se a terrível matança no Vietname, com a participação dos exércitos dos Estados Unidos, finalmente de lá corridos sem dó sem piedade.

Examinem-se os acontecimentos mais perto dos nossos dias. O ex-presidente Reagan invadiu uma ilhazinha do Caribe. Entupiu-a com a marinhagem presidencial. Arrotou a força e prestígio. Os ilhéus ficaram atônitos. Tanta gente fardada para conquistar alguns pobres diabos. Bastaria que Reagan pedisse emprestados ao Piauí os soldados da Polícia Militar de Nossa Senhora dos Remédios e tudo se resolveria facilmente.

E a ONU? Bico calado. Houve palmas a Reagan, herói e salvador da civilização do Caribe.

Recorde-se o Panamá. O presidente Bush pintou o sete. Invadiu o país alheio, assassinou soldados e civis panamenhos, derribou o chefe do governo desse pobre e expoliado povo, levou-o preso para os tribunais dos Estados Unidos.

E a ONU? Bico calado. Palmas a Bush. Só Cuba protestou.

E os judeus? Tomaram a Palestina dos palestinos. Ocuparam-na. Anos a fio a ocupam, com o apoio dos Estados Unidos.

Agora o Iraque resolveu soletrar a lição dos chefões. Um deus-nos-acuda. O homem do Iraque é o próprio diabo apenas porque quer o que pertence ao seu povo.


A. Tito Filho, 18/10/1990, Jornal O Dia

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