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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

IMITAÇÃO

Entregues a influências más, as crianças se tornam ruins por imitação. Toda novidade no crime é copiada em seguida por outros delinqüentes, enquanto a corrupção do meio social de que procede a maior parte delas se mostre a causa mais importante da delinqüência. O exemplo representa poderosa influência educativa. a educação por si só modifica profundamente o comportamento da criança e do próprio adulto.

A criança age por imitação, reproduzindo as atitudes e os gestos circunstantes. Até mesmo na vida adulta a tendência imitativa se entremostra. Nos primeiros anos apresenta-se por tal modo acentuada e dominadora que observa quase toda a vida.

Revelam as crianças o desejo de maltratar os seres fracos, de adulterar a verdade, de mentir, porque sofrem a influência imediata de fatos que impressivamente lhes ferem a imaginação e as impelem à satisfação de seu instinto destruidor.

O médico Silva Melo, de exuberante cultura, assegura que pela imitação das pessoas facilmente assimilamos os seus hábitos, a sua conduta social, aprendemos a língua materna, seguimos a nossa religião. A criança, desde os primeiros dias, deixa-se penetrar pelas influências do meio, pelas condições de família e de sociedade.

O homem é produto de sua conduta, da sua escola, da casa, do seu ambiente, do mundo em que vive e do qual retira os motivos para a sua existência.

As causas da conduta anti-social do menino se representam pelas condições habitacionais e econômicas e pelas condições de afetividade e abandono moral do imaturo. O aumento doloroso do número de menores de conduta anti-social começou com o surto industrial e conseqüentemente com a agitação da vida moderna. A família arruinou-se com o progresso da grande indústria. Pai e mãe deixaram de assumir o papel de educadores.

As péssimas residências do povo acarretam a vontade de viver na rua, nos botequins, longe do lar.

A sociedade moderna cometeu o grave erro de substituir desde a mais tenra idade o ensino familiar pela escola. E a isso foi obrigada pela traição das mulheres. Estas abandonaram os filhos nos jardins de infância, para se ocuparem da sua profissão, das suas ambições mundanas, dos seus prazeres sexuais, das suas fantasias literárias ou artísticas, ou simplesmente para jogar o bridge, ir ao cinema, perder o tempo numa azafamada ociosidade. Causaram assim a extinção do grupo familiar, no qual a criança crescia no meio dos adultos com quem aprendia.

Os pais deixaram de educar os filhos; arremessaram-nos à escola, confiando em que a esta, não a eles, cumpre colocar as crianças em contato com os seus semelhantes, esquecendo-se de que a educação deve ser orientada com atencioso devotamento.

Uma das formas práticas de que se tem usado e abusado para disciplinar os menores é o trabalho, dada a circunstância de constituir ele uma aplicação consciente das atividades físicas e mentais. Erram quantos o supõem o mais natural dos antídotos dos males trazidos pela civilização contemporânea.

Úteis são apenas as atividades que acionam favoravelmente as energias individuais, comunicando ao homem uma consciência superior de si mesmo e não permitindo que se corrompa ao sabor da necessidade.

Os trabalhos de rua mostram-se, em geral, nocivos à formação mental e moral dos menores, porque a alma das ruas encerra infelizmente germes degradantes.

Depois destas considerações, cabe perguntar qual a sorte que se reserva no Brasil ao menor, cercado de todos os fatores de deseducação ou ineducação para a vida social.


A. Tito Filho, 03/08/1990, Jornal O Dia

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