Quer ler este texto em PDF?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

SUPERIORIDADE E INFERIORIDADE DOS POVOS

A questão da superioridade dos povos, ou das "raças", tem apaixonado espíritos de valor nos domínios da ciência. Aos dolicocéfalos loiros atribuiu-se o privilégio da raça superior, destinada a cumprir uma missão civilizadora especial. Difundindo teorias de inexatidão científica comprovada, homens como Gobineau "promoveram a eclosão de preconceitos de raças".

Bem fácil de notar é que a ciência é infensa aos preconceitos.

"Onde quer que o grupo branco resida, por uma concorrência de circunstâncias políticas invencíveis, imerso nos gelos polares, ou sob o calor do Equador, para esse lado se inclinará o centro de gravidade do mundo intelectual. Será em torno dele que todas as idéias, todas as tendências, todos os esforços convergirão, não havendo obstáculos naturais capazes de obstar que os produtos de conveniência a mais longínqua possível, ali cheguem, através dos mares, dos rios e das montanhas" - foi a proclamação de Gobineau, estabelecendo a superioridade do “homem louro de olhos azuis".

Nos seus quatro volumes sobre "Desigualdade das Raças", Gobineau se revela apenas um romancista em matéria de antropologia.

Segue-lhe as pisadas, com as suas duas "raças" humanas da Europa, George Vacher de Lapouge. Para ele existiriam uma "raça" de conquistadores e de senhores, os arianos, e outra "raça" de vencidos e de escravos natos, os celtas, ambas físicas e moralmente distintas. À primeira pertencem a terra e a genialidade da inteligência; a segunda há de conformar-se com a mediocridade.

Expondo as falsas bases do raciocínio, Novicow, no seu "O Futuro da Raça Branca", desenvolve magistrais considerações como as que vamos resumir: Lapouge afirma que os anglo-saxões construíram um dos maiores impérios do mundo, o que confirma a sua superioridade racial. E para demonstrar a inferioridade dos latinos, diz ele que os franceses foram vencidos em Sedan. Se Lapouge houvesse escrito sua obra em 1811, teria chegado a uma conclusão precisamente contrária, pela razão de que, tendo os franceses vencido todos as povos da Europa, passariam, fatalmente, a ser raça superior. Desta forma, após cada batalha se modificariam todas as conclusões da antropologia. A 17 de junho de 1815 os franceses teriam sido superiores para em 19, depois de Waterloo, o deixarem de ser.

Não é sério acreditar em tanta inconsistência de argumentos.

Faguet chega a afirmar que a civilização até agora apenas tem sido feita pelos brancos. A cor, na crença do pensador francês, é o único fator da civilização. Tão frágil assertiva pode ser assim destruída: se civilização e raça fossem noções idênticas, as raças mais perfeitas teriam sido as primeiras a civilizar-se. E que faziam os famosos dólico-louros na Europa Ocidental na época em que os caldeus, egípcios e chineses desenvolviam civilizações já relativamente muito recentes? Os dólico-louros existiam na Europa já na época dos primeiros faraós e não sabemos como é que estavam tão atrasados, apesar das suas faculdades extraordinárias. Durante muito tempo os nobres dólico-louros mostraram-se completamente bárbaros, sendo os visbraqui-castanhos já bastante civilizados.

Vislumbramos em Spengler o mesmo erro em que muitos incorreram quando, no "O Homem e a Técnica", tende a estabelecer entre os homens uma distinção fundamental: a classe dos que dirigem e a classe dos que são dirigidos. O trabalho coletivo exige "não só duas espécies de técnica, mas duas espécies de homens... existem homens nascidos para mandar e homens nascidos para obedecer, sujeitos e objetos do processo econômico".

Não é justo deixar de admitir que o trabalho coletivo exija dos homens que dirijam e que são dirigidos. mas daí a afirmar-se que uns nascem para mandar e outros para obedecer, vai grande diferença. "Governar - afirma Spengler - guiar, comandar é uma arte, é uma técnica difícil... pressupõe um talento inato".


A. Tito Filho, 20/05/1990, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário