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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

PROPAGANDA ELEITORAL

Nos tempos antigos as campanhas eleitoras se faziam em praça pública, nos coretos das pracinhas de lazer ou nos palanques armados para o falatório dos candidatos. Oradores e mais oradores desfilavam, e os mais importantes discursavam no final desses entusiásticos ajuntamentos. A linguagem se mostrava dura, severa, por vezes humorística, e aqui e ali se exploravam os ridículos e os erros e espertezas dos adversários. Assim no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Ceará, no Piauí. Nas capitais como nas cidades interioranas. Havia a crítica forte, a censura veemente, as denúncias sobre fatos condenáveis. Os homens, porém, eram outros. Tinham honestidade e repudiavam infâmias, injúrias, calúnias e difamações. Atacava-se rijamente o adversário, mas com base na verdade, nunca em invencionices e falsidades. Conhecidos oradores recebiam aplausos demorados das multidões, assim como Maurício de Lacerda, pai de Carlos Lacerda - um Maurício corajoso, mas respeitador da honra alheia, porque consciente de que a sua honradez igualmente merecia respeito.

Com o correr dos anos, surgiu a televisão, instrumento comunicador que penetra sobretudo no ambiente familiar. Concedeu-se por via de lei, horário gratuito nesses aparelhos, com a finalidade de que candidatos pobres e ricos pudessem levar idéias e projetos aos grandes auditórios das coletividades. Apareciam então tipos gaiatos, sem mensagens e sem credibilidade, para o fim exclusivo de projeção doentia. E quanto mais os horários gratuitos serviam o egoísmo de muitos, concluiu-se também que a arma, de tão poderosa, poderia eleger xingadores e derrotar candidatos por força da divulgação, a nível total, de fatos que jamais deveriam ser objeto de campanha eleitoral.

Ainda o ano passado, na peleja presidencial, levou-se a televisão uma mulher, frustrada a não mais poder, para contar ao público que foi amante de um dos candidatos presidenciais. Aquele que foi isento de culpa, atire a primeira pedra - assentou o Cristo justo quando absolvia a adultera. Qual o homem que, na mocidade, não teve as suas peripécias sexuais com mulheres que se entregavam com facilidade? O fato positivou que o Tribunal Eleitoral nem sempre exerce o policiamento dos programas, como era de seu dever, da forma que fez em São Paulo, ao tempo do candidato a governar Marronzinho. Tem a Justiça a obrigação de acompanhar a programação e suspendê-la no instante das agressões pessoais, e das acusações mentirosas.

Na atual campanha para os governos estaduais, aguçam-se os destemperos da ambição pela conquista do poder. Certos candidatos não se conduzem com o devido respeito à dignidade dos adversários. As descomposturas pertencem à falta de argumentos. Avilta-se a honra. Insulta-se a personalidade. Humilha-se. Nem a vida privada das pessoas fica imune a essa debocharia escancarada.

A televisão, sobretudo a televisão, exibe, de manhã e de noite, tipos gaiatos, candidatos machões que ameaçam contar estórias escabrosas, e vários outros, sem idéias e sem ideais.

Interessante também por estes brasis enormes as pazes de velhos adversários e as inimizades de antigos correligionários, episódio vulgar na política partidária brasileira. Políticos ontem escarravam uns nos outros e hoje se beijam, como nos versos em que o poeta diz que o beijo amigo é véspera do escarro. Por que o fato se repete em todos os cenários nacionais, no Rio, em Salvador, em Campinas, em Sobral, no Recife, em Teresina, em Oeiras? Terríveis adversários ontem, amigos do peito hoje? Porque as agremiações partidárias são falsas, os candidatos não defendem idéias nem plataformas, mas exclusivamente ambições de alcançar o poder.

Débeis mentais, tipos arrogantes, machões, indivíduos apalhaçados ocupam os horários das tevês e arrotam descomposturas. São candidatos a cargos eletivos. Certos partidos contratam por milhões profissionais inteligentes que xingam em nome dos candidatos. No Brasil todo, sob a proteção da Justiça Eleitoral, que merece respeito e credibilidade, se praticam esses programas condenáveis.


A. Tito Filho, 18/09/1990, Jornal O Dia

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