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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

QUASE MARANHENSE

Um dia Carlos Castelo Branco veio a Teresina autografar o seu livro de análise e interpretação de episódios políticos e tormentos partidários que provocaram, em 1964, a nefasta quinta República. Na dedicatória do meu exemplar escreveu que eu havia renegado por herança a família Castelo Branco. Lembrou-se do nosso parentesco. Meu avô Silvestre Tito Castelo Branco andou de briga com os parentes e tirou dos filhos o nome de família, conseqüentemente dos netos também.

Recebi Carlos na Academia Piauiense de Letras, em 1984, e recordei esses fatos, e agora os revelo de novo na ocasião em que lhe são prestadas justas homenagens nestes seus 70 anos de vida, depois de muitas vitórias de muito se orgulha o humilde parente rabiscador das presentes considerações.

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A 17 de janeiro de 1914, Cristino Castelo Branco casou-se com a prima Dulcila Santana Castelo Branco. Juntos viveram 69 anos e compuseram afetiva constelação de filhos. Um deles, Carlos, quase nascia do outro lado do rio Parnaíba.

No fim de outubro ou novembro de 1917, Cristino assumiu o juizado de direito do Brejo, no Maranhão. Desistiu da magistratura e regressou a Teresina dois anos depois, outubro ou novembro de 1919. Carlos nasceu a 25 de junho de 1920. Por poucos meses deixou de ser maranhense e quase teria o mesmo destino de Odylo costa, filho, que veio ao mundo na ilha de São Luis por virtude de presença paterna na magistratura do vizinho Estado.

Teresinense, nesta Chapada do Corisco, escolhida pelo baiano José Antônio Saraiva para edificar nela a Vila Nova do Poti, derribando a mataria e fundando a primeira cidade artificial do país, na Chapada. Carlos passou a infância e a adolescência, e nunca esqueceu dos seus hábitos, dos seus costumes e das suas lembranças. Ginasiano, participou de imprensa estudantil, jornalismo de idéia e fantasia.

Deixou Teresina em janeiro de 1937, deixando, como contou, uma novidade em caminho, o telefone. e escreveu: "Deixei a cidade impregnado dela, dos seus sonhos modestos e do amor à sua condição". No trem rumo a São Luís, saudoso, recitou Lucídio Freitas: "Teresina apagou-se na distância. Ficou longe de mim, adormecida/Guardando a alma de sol de minha infância/E o minuto melhor de minha vida".

Buscou outras paisagens. Deixava a paisagenzinha de Teresina de ruas empregadas, dois cineminhas, famosas casa de vida airada da rua Paissandu, rodas de calçada, em cadeiras desconfortáveis, para o falatório da vida alheia. Nove da noite, hora de dormir, mulher cansada e mulher donzela.

Estacionou em Belo Horizonte. Em 1939, repórter policial, tomou lições de mineirismos, mineirice e mineiridade. Aprendeu com os mineiros espertos a ouvir e a cochilar.

Depois, conquistou o Rio. Chegou ao "Jornal do Brasil". Projetou-se internacionalmente com a Coluna do Castelo; repositório de análise da vida política brasileira, homens e fatos, em mais de um quartel de século.

Deus o proteja na sua inteligência sem medo, sempre piauiense.


A. Tito Filho, 20/07/1990, Jornal O Dia

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