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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

POLUIÇÃO VISUAL

Faz alguns anos fiz apelo ao prefeito de Teresina, não me recordo quem na época desempenhava o cargo, no sentido de que não fosse permitida a colocação de faixas de anúncios indicativos de casas comerciais ou escritórios, de tabuletas de propaganda e de outros tipos de aviso, sem que antes houvesse a aprovação da autoridade para tal fim designada. E transcrevi expressões copiadas de anúncios e cartazes com evidentes desobediências a princípios ortográficos e até solecismos condenáveis e erros crassos que tanto depunham contra a educação cultural do teresinense. Indiquei algumas dessas estapafúrdias escrituras: BORRAXEIRO, RESTAURANTE FÁLASE OTEL e tantos mais. Não obtive providência alguma e a cousa ficou pior.

Agora, o Dr. Moacir Fernandes de Godoy, cardiologista de ciência e de ilustração, me propicia a satisfação de censurar vergonhosa construção de nossa língua, no centro da cidade, tornando mais pobre a inteligência de um povo digno de melhor sorte.

EDUCAR É PRECISO - eis o trabalho cívico desse médico preocupado com a triste ignorância que avilta a língua pátria, a seguir transcrito.

X   X   X

O Professor William J. Bennet, doutor em Filosofia pela Universidade do Texas, questionado sobre a finalidade da educação, afirmou que ela é a maneira pela qual a civilização se sustenta”. E complementou: “Não nascemos com instintos para a civilização. Não entramos no mundo dos alfabetizados ou conhecedores da diferença entre o certo e o errado. A educação, ou seja, a tarefa educativa de pais, professores e da sociedade como um todo, é o modo pelo qual cada nova geração se transforma em uma geração adulta de homens e mulheres”.

Fica claro, do acima exposto, o importante papel a ser desempenhado não só pelos professores ou pelos pais, como também a obrigação que a sociedade tem como um todo de contribuir para formação educacional dos indivíduos. Esse esforço conjunto recebe um destaque ainda maior quando, compulsadas as estatísticas, verificamos que o Brasil situa-se em uma incômoda posição em termos de analfabetismo. Assim é que os dados demográficos de 1980 indicavam a existência de 51% de analfabetos no País. Por aquela época ocupávamos um sofrível septuagésimo sétimo lugar em nível educacional de acordo com dados da UNESCO. Em termos regionais e mais recentes, sabe-se que o Piauí detém o índice recorde de analfabetismo no Brasil, com a alarmante taxa de 55%. O próximo censo, infelizmente, não deverá mostrar modificações para melhor.

Nós os privilegiados, que conseguimos escapar deste estigma cruel, não podemos nos enclausurar voltando as costas aos desfavorecidos. Ao contrário, devemos aproveitar todas as oportunidades para tentar diminuir as diferenças atuando como educadores mesmo onde não pareça haver espaço para tanto.

Refiro-me agora ao assunto propriamente dito, motivos destes breves comentários. Tenho observado com freqüência (e fotografado), nas faixas penduradas pela cidade, erros gramaticais grosseiros, que depõem contra os que as produziram ou solicitaram, mas, acima de tudo, causam um extremo desserviço, já que sendo públicas podem induzir aos menos preparados considerá-las como corretas. Uma dessas faixas, porém, causou-me especial mal-estar por ser alusiva a um evento médico e em sendo médico senti-me responsável também pelo grave equívoco ali perpretado.

Lá esta ela, em local estratégico, na Avenida Miguel Rosa, quase em frente ao Corpo de Bombeiros e bem próxima a duas escolas de primeiro grau, informando em letras garrafais que os Congressistas eram "BEM VINDO" ao I Simpósio de "SIRURGIA"... e outros dizeres que não vêm ao caso no momento.

A falha na flexão numeral e a falta do hífen são erros menores, perdoáveis até, embora não justificados uma vez que a responsabilidade pela faixa é, no caso, de indivíduos com grau universitário e, pelo que se supõe do assunto, com nível de especialização. Já a palavra cirurgia com "S" fere pelo grotesco e não pode passar nem como lapso de quem a produziu.

Entende-se que obviamente não foram os médicos os que diretamente erraram mas era imperativo a existência de um responsável pela revisão a fim de que o nome da Instituição não ficasse exposto ao ridículo. Aliás, minha sugestão é a de que a Prefeitura de Teresina, através de sua Secretaria de Educação, mantenha uma comissão encarregada de analisar as faixas que são espalhadas pela cidade a fim de que erros de tal natureza não tornem a acontecer.


A. Tito Filho, 04/09/1990, Jornal O Dia

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