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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

COUSAS DA POLÍTICA

Antiga a briga de boca e papel dos políticos brasileiros. Getúlio quando se via muito criticado, convidava o crítico para polpudo cargo e logo os elogios surgiam.

Conhecidíssimo o episodio que envolveu o notável João Brígido, jornalista que encheu a vida cearense de artigos brilhantes e lições sobre cousas e homens, e o presidente Acióli, governador do Ceará, um dos reis do nepotismo nacional.

João Brígido pretendia emprego rendoso para um parente, segundo contam as crônicas. Procurou Acióli e teve a promessa da prebenda. Passaram-se os dias e a nomeação não se verificava, até que o jornalista foi ao palácio governamental e fez reclamação. O negócio prosseguia enrolado. João Brígido procurou desatou o nó, reclamou já com palavras de esbodegação, e retirou-se dos confortos palacianos rompido com o chefe. No jornal, sentou-se à mesa e escreveu um artigo dos mais violentos contra o governante. Ao atingir as últimas linhas do artigalhão, chegou emissário do governador com o decreto da nomeação pleiteada. João Brígido não quis perder tempo na escritura de novo artigo para a edição de seu órgão de imprensa. Encontrou a solução, escrevendo, no final das descomposturas: "O que eu disse linhas acima, nada mais é do que a reprodução das perversidades que os inimigos atiram à face do governador Acióli, cidadão dos mais ilustres da terra cearense, político sem defeito".

Assim no Piauí. Os políticos escarram uns nos outros e depois se beijam, como nos versos em que o poeta diz que o beijo amigo é véspera do escarro. Terríveis adversários foram Eurípedes de Aguiar e Matias Olímpio. Tempos depois o segundo apoiou o primeiro para o Governo do Estado. Em 1946, num comício da praça Rio Branco, de Teresina, Matias Olímpio acusou Leônidas Melo de ladrão da cousa pública e exibiu certidões obtidas em governo amigo, o de Leôncio Ferraz, de cuecas de Leônidas pagas pelos cofres públicos. Dez anos passados, ambos foram candidatos ao Senado, num acordo dos dois referidos chefes partidários. O saudoso e admirável Petrônio Portella, nos coretos das concentrações eleitorais, referia-se a Felino Muller como assassino. Uns temos decorridos os dois se tornaram amigos e conselheiros. Os antigos seguidores do Partido Social Democrático (PSD) e da União Democrática Nacional se arrasavam por toda parte. Em terreiro de pessedista não dançava udenista. Veio a famosa revolução entre aspas de 1964 e enfiou os dois famosos adversários num saco só, como se fossem a mesma farinha.

Após a ditadura de Getúlio Vargas, o país voltou à normalidade constitucional em 1946. De lá para cá, vários políticos governaram o Piauí, começando-se por Rocha Furtado. Em seguida Pedro Freitas que deixou a UDN e desta passou a receber hostilidade e xingamento. E assim por diante. As brigas e rompimentos continuam. Desavenças hoje, pazes amanhã.


A. Tito Filho, 19/04/1990, Jornal O Dia

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