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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

MERECIMENTO

Meu avô Silvestre Tito Castelo Branco foi cidadão sem cabedais. Pobre. Mal podia sustentar a família de vários rebentos. Morava em Barras, onde se desaveio com parentes e da esposa e dos filhos anulou o nome familiar Castelo Branco. Um dos filhos, jovem inteligente, chamado José Arimathéa Tito. O pai sem dinheiro não podia sustentá-lo na capital. Alma generosa, advogado, político, João José Pinheiro, poeta espontâneo e singelo, acolheu o garoto na própria casa, dando-lhe teto e alimentação e ajudando-o nos estudos.

João José Pinheiro era maranhense, mas muito moço fixou-se no Piauí, onde se domiciliou, constituiu família e faleceu. Quando adolescente, fui aluno de dois dos seus filhos, João Pinheiro, diretor do tradicional Liceu Piauiense, mestre conceituado do português, língua de que ele conhecia os melhores clássicos, e de Amália Pinheiro, talentosa musicista, que tanto encantou a sociedade teresinense, dominando instrumentos musicais e compondo músicas artísticas do mais intenso lirismo. Nessa época de estudos ginasiais, conheci Celso Pinheiro, outro irmão, uma das mais altas expressões da vida literária piauiense, conferencista de escol e poeta simbolista da mais elevada inspiração.

Em 1964, ingressei na Academia Piauiense de Letras e desta instituição me tornava secretário geral no ano seguinte. Desenvolvi trabalho acadêmico e me tornei conhecedor de três irmãos, João e Celso, dois dos dez fundadores da instituição, e mais outro, Breno Pinheiro, jornalista projetado em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Estudante no Rio, década de 40, fiz amizade com Celso Pinheiro Filho, bacharel em direito e que se tornaria, com o correr dos anos, advogado de grande conceito, prefeito de Teresina e um dos mais dedicados pesquisadores da história do Piauí. Acusado de comunista, nos tempos da Ditadura de Getúlio Vargas, a polícia criminosa lhe impôs sofrimentos atrozes que o privaram do uso dos membros inferiores. Também honrou os quadros da Academia Piauiense de Letras e deixou descendentes educados, entre os quais a intelectual Lina Celso.

Sempre gostei dos Pinheiros, dos antigos e dos mais moços, com os quais mantive amizade sincera. Nunca me deslembrei do que o chefe da ilustre família fez por meu pai, ajudando-o nos estudos e possibilitando-lhe formar-se em direito, no Recife.

Nomeado para cargo público no Piauí, por concurso cursei a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro até o quarto ano. Transferi-me para idêntica escola superior em Teresina, para cursar o último ano. Completei em 16º da turma, a primeira depois da federalização do extinto estabelecimento de ensino. Eis os colegas: Afrânio Nunes, Alcebíades Vieira Chaves, Esdras Pinheiro Correia, José Barbosa, José Guilherme do Rego Monteiro, Manoel Paulo Nunes, Omar dos Santos Rocha, Raimundo Everton de Paiva e Sebastião de Almeida Castelo Branco - os vivos; João Lino de Assunção, Cristovão Alves de Carvalho, Manoel Teodoro Gomes, Jesus da Cunha Araújo, Raimundo Richard e Ernani de Moura Lima, falecidos. Todos vitoriosos como políticos, magistrados, procuradores, jornalistas, professores, escritores, advogados.

Entre os novos bacharéis, mais um descendente dos Pinheiro passou a participar de minha amizade e da minha admiração, Esdras Pinheiro Correio, estudioso, dedicado ao companheirismo, de atitudes francas e corajosas. Escolheu carreira exigente de determinação e sobretudo conhecimento e interpretação da lei - a carreira honrosa do ministério público. Promotor ativo e independente. Procurador de justiça, sempre desempenhou as funções sustentado do critério de servir racionalmente o direito, para alcançar a verdade que assegure as prerrogativas do homem e o equilíbrio da sociedade.

O trabalho sério com que tem sabido desempenhar as funções meritórias dos seus cargos conduziu-o a Subprocuradoria Geral da justiça, como se fora prêmio ao mérito. Agora pleiteia a Procuradoria Geral, com títulos de servidor consciente da lei, para vigiar-lhe a aplicação e exigir dos seus aplicadores a correta observação da sua letra e do seu espírito.

Esdras Pinheiro Correia merece o apoio dos promotores e procuradores do Estado, pois os colegas o conhecem e sabem que possuem, na sua formação, um fazedor de justiça, sobretudo.


A. Tito Filho, 13/09/1990, Jornal O Dia

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